segunda-feira, 18 de julho de 2011

O Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski 1959 - 1969

Farsa-Misterium

 “O que é a essência do teatro?”

O teatro é a única dentre as artes a possuir o privilégio da “ritualidade”. É um ato coletivo, o espectador tem a possibilidade de co-participar, o espetáculo é uma espécie de ritual coletivo, de sistema de signos. O espectador influi em parte sobre o desenvolver-se do ato criativo: digamos, se os espectadores começam a aplaudir no decorrer da ação cênica, os atores devem esperar para dizer a fala seguinte, mudar, portanto o ritmo, a velocidade e, conseqüentemente, a estrutura do espetáculo. Em uma situação análoga, durante um filme, a fita não para, lá tudo está pronto antes, indiferente à reação dos espectadores, que não são participantes, mas só exclusivamente, observadores.  O teatro era (e permaneceu, mas em um âmbito residual) algo como um ato coletivo, um jogo ritual. No ritual não há atores e não há espectadores. Há participantes principais (por exemplo, o xamã) e secundários (por exemplo, a multidão que observa as ações mágicas do xamã e as acompanha com a magia dos gestos, do canto da dança etc.).

“A função do teatro como jogo “ritual”se diferencia. O ritual da religião é uma espécie de magia, o “ritual” do teatro, um espécie de jogo.”

Mas o teatro se rege pelas leis da teatralidade. No teatro exige em igual “justificativa” o fato de alguém estar em pé assim como o fato de alguém estar de cabeça para baixo. Tanto em um caso como no outro vale a lógica da forma, caso contrário o teatro não é composição, não é estrutura, isto é, não é arte. No teatro, tudo aquilo que está deveria ser teatro. Ou então, não é necessário. Se alguém no espetáculo faz um gesto ou executa uma ação, é preciso perguntar: o que é no espaço – só um movimento “natural” ou um movimento artístico, teatral, um elemento da composição, uma construção, uma micro pantomima? A palavra falada se é só dizer a palavra (mesmo com o pensamento, mesmo com a intenção) não é ainda algo de artístico, não é teatro. Onde está o som-matéria da composição? O som da palavra é para o teatro forma. Se não se confirma na totalidade da partitura (sonora rítimica) é extra teatral.

O que é a essência do teatro? O que é aquele fato de algo ser teatral? O que permaneceria se eliminássemos do teatro o que não é teatro ( a literatura, as artes plásticas, a atualidade, as teses, o copiar a realidade)? Qual elemento não poderia ser retomado por qualquer outro gênero artístico ( por exemplo, pelo cinema)?”

 Não se trata aqui de um programa de eliminação do teatro de todos os fatores acima citados (por exemplo, a literatura), trata-se, em primeiro lugar de ordená-los hierarquicamente e de chegar àquilo que é o núcleo da teatralidade. Não faz sentido retomar as velhas controvérsias sobre hierarquia, sobre quem é o verdadeiro artífice do espetáculo: o autor, o diretor, o ator, o artista plástico – e qual é o âmbito admissível de suas competências. No teatro é artífice aquele que em um dado concreto espetáculo o é efetivamente. E as competências criativas de uma pessoa de teatro são exatamente aquelas que ele conseguir garantir-se na prática. A arte é regida, com efeito, pelo critério da eficácia. Nenhuma fronteira (rígida) pode ser aqui considerada seriamente. A arte no fundo é mais a superação das prerrogativas.    

Bibliografia

GROTOWSKI, J.  LUDWIK, F. BARBA, E. Curadoria de Ludwik Flaszen e Carla Molinari. O Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski 1959 - 1969. Editora Perspectiva, 1° edição, 2007

Jerzy Grotowski (1933 - 1999)

A LITERATURA DRAMÁTICA DE PLÍNIO MARCOS

            "A literatura dramática de Plínio Marcos atinge o leitor e/ou espectador como estilete. Provoca, ao mesmo tempo, repulsa e desperta uma angústia solitária, induzindo à necessidade urgente de intervenção. As relações de poder são estabelecidas por uma fauna de alcagüetes, prostitutas, homossexuais, cafetões e cafetinas, policiais corruptos, desempregados, prisioneiros assassinos, loucos, débeis mentais, meninos abandonados: seres jogados em cena sem nenhuma cortina de fumaça. (...) Nos seus escritos avultam como temas a solidão e a decadência humana, o círculo vicioso da tortura mútua e a absoluta falta de sentido nas vidas degradadas, a sexualidade e os padrões de comportamento dominantes, o beco sem saída da miséria e a violência, a superexploração do trabalho humano e a morte prematura como horizonte permanente. Sobressaem, portanto, sujeitos sociais distintos, marcados pela tragédia individual e coletiva, que circulam pelo espaço urbano."

PARANHOS, K. R. A LITERATURA DRAMÁTICA DE PLÍNIO MARCOS: cenas da(s) cidade(s). Revista O Percevejo, Vol. 1, No 1 (2009)

Plinio Marcos (1935-1999)
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